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lunes, 25 de junio de 2012

Brasil enriquecerá uranio a partir de 2012


La Armada brasileña, a cargo del proyecto, producirá 40 toneladas, que se destinarán a aplicaciones científicas y técnicas. La Constitución del gigante sudamericano prohíbe el desarrollo de armas nucleares 

 

Con el ciclo de enriquecimiento de uranio completo, se pone en marcha la Usina de Gas de Uranio (Usexa), en Iperó, en el interior del estado San Pablo. Con esta planta, también a cargo de la Armada, Brasil evitará que la última etapa del proceso sea realizada en el , según difundió el diario O Estado de S. Paulo. Hasta ahora, esa se realizaba en el exterior, en la empresa canadiense Cameco

El cronograma establecido prevé que la  carga brasileña de yellow cake se producirá en las próximas semanas y luego de ello, la planta será sometida a una inspección general a cargo de técnicos de la Comisión Nacional de Energía Nuclear. 

Más tarde, a partir de septiembre, la Usexa comenzará a recibir elementos sensibles, como nitrato de uranio y ácido fluorhídrico, y las pruebas con esas sustancias se extenderán por 150 días. Al cabo de todo ello, "la producción plena comenzará en 2012", según afirmó el Jefe de la Armada, Moura Neto

A partir de entonces, la usina fabricará unas 40 toneladas anuales de uranio limitado al 5% y otra línea al 20%, para aplicaciones científicas y técnicas. Las armas nucleares exigen un nivel de enriquecimiento superior a 90% y en Brasil la producción está prohibida por la Constitución. 

En los próximos días, la industria naval brasileña comenzará a ensamblar los submarinos Scorpéne/Br, en la planta de Itaguaí, en el litoral sur fluminense, a los que se les agregará motores a propulsión nuclear en 2016. El programa prevé la construcción de una nueva flota de submarinos de ataque y de un gran navío, todos ellos a propulsión atómica. 

Con esos vehículos, Brasil aspira a vigilar los aproximadamente 4.500 millones de kilómetros cuadrados de litoral, especialmente los yacimientos submarinos de petróleo hallados pocos años atrás que, de acuerdo con los análisis de expertos, convertirán al país en una potencia petrolera. 

http://america.infobae.com/notas/28968-Brasil-enriquecera-uranio-a-partir-de-2012 
http://www.taringa.net/posts/noticias/11562511/Brasil-enriquecera-uranio-a-partir-de-2012.html

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Abril 2010. Brasil.

Amazônia ampliará sobra de urânio no país

Breve introdução ao tema
A causa da nova febre de urânio é, por um lado, a construção anunciada de novas usinas nucleares no Brasil, na China e também na Europa e, por outro, a expectativa de uma alta dos preços no mercado internacional de urânio – turbinada pelo argumento falso de que a energia atômica proteje o clima. Mesmo que não haja emissões diretas de CO2 das usinas atômicas, a energia nuclear não beneficia o clima de maneira alguma. 

O aproveitamento da energia atômica na verdade gera quantidades notáveis de gases de efeito estufa. A mineração de urânio, a produção do insumo yellowcake, transporte, construção de reatores, enriquecimento do urânio, produção das varas de combustível nuclear, “tratamento do lixo nuclear”, tudo isto, conforme o cientista e especialista em energia atômica sul-africano David Fig, contribui de maneira significativa para as emissões de gases de efeito estufa.

Amazônia ampliará sobra de urânio no país
Com excedente ainda maior após exploração de nova reserva, Brasil poderá exportar minério que serve de base para usina nuclear. O plano é exportar produto já na forma de combustível nuclear; decisão sobre venda ou estocagem do excedente não está tomada.

Embora já conte com a produção de toneladas de excedentes de urânio a partir de 2012, o governo negocia aumentar, na Amazônia, a exploração do minério no país. A cerca de 120 quilômetros de Manaus, numa área ainda preservada de floresta, encontra-se uma das maiores reservas de urânio do país, de nome Pitinga, com supostas 150 mil toneladas do minério que serve de combustível para as usinas nucleares.

Segundo o presidente da estatal INB (Indústrias Nucleares do Brasil), Alfredo Tranjan Filho, a empresa negocia um acordo para a extração de urânio com a mineradora peruana Minsur, que comprou no ano passado os direitos de exploração da Paranapanema em Pitinga. No local, o urânio -monopólio estatal- aparece associado ao estanho.

“Todo o mundo é ávido por urânio”, diz Tranjan Filho, defensor de que o país deve exportar o urânio que produzir a mais para a geração de energia nas usinas nucleares.

A exportação de urânio ainda é tema de debate no governo, mas a página da estatal na internet não deixa dúvida sobre o objetivo: “O Brasil possui uma das maiores reservas mundiais de urânio, o que permite o suprimento das necessidades domésticas a longo prazo e a disponibilização do excedente para o mercado externo”.

O país produz atualmente, na mina de Caetité, na Bahia, cerca de 400 toneladas de urânio por ano. Em 2012, a previsão é produzir mais 1.500 toneladas por ano, com a primeira ampliação da extração em Caetité e com o início da exploração no município de Santa Quitéria, no Ceará. Na jazida cearense, começou a funcionar recentemente a primeira parceria com a iniciativa privada para a exploração de urânio. ( Veja também -> AIEA e INB: duas siglas parceiras contra a população de Caetité)

Com as duas usinas nucleares atualmente em operação no Brasil – Angra 1 e Angra 2-, o país consome menos de 500 toneladas de urânio por ano. Quando entrar em operação, provavelmente a partir de 2014, Angra 3 consumirá cerca de 320 toneladas por ano. (Veja também -> Interesses Franceses)

Também em 2014, o Brasil planeja dominar em escala industrial todas as etapas do ciclo do combustível nuclear, da produção do concentrado de urânio, conhecido como “yellow cake”, até o enriquecimento, a fabricação de pastilhas e a montagem das varetas usadas como combustível nas usinas nucleares. (Veja também -> Construção da Bomba Atômica Brasileira)

“A gente não quer exportar urânio como concentrado, mas já na forma de combustível nuclear”, adianta Tranjan. (Veja também ->Trafico de Material Radioativo & Linha do Tempo Nuclear Brasileira )

Quatro novas usinas nucleares, planejadas para entrar em funcionamento até 2030, deverão usar 250 toneladas por ano de urânio. Mas, antes mesmo de a primeira dessas quatro novas usinas começar a operar, e sem contar com o potencial de Pitinga, o Brasil estará produzindo 2.800 toneladas de urânio por ano. E usando menos do que a terça parte disso.

“Nossa prioridade é assegurar o fornecimento para as nossas usinas e as que estão planejadas. A decisão sobre o que fazer com o excedente será tomada quando ele realmente existir”, disse o ministro Edison Lobão (Minas e Energia).

Decisão
O comitê interministerial de desenvolvimento do programa nuclear ainda não definiu o que fazer com o urânio extra a ser produzido em Santa Quitéria. A mais recente reunião do grupo ocorreu em agosto, pouco depois do anúncio do resultado da licitação, ganha pelo grupo Galvani. Na jazida de Itataia, o urânio é encontrado associado ao fosfato, usado na produção de fertilizantes agrícolas.

A exportação de urânio foi assunto polêmico durante a primeira viagem de Luiz Inácio Lula da Silva à China, em 2004, quando os chineses manifestaram interesse em importar o produto brasileiro. (Veja também -> Lula cada vez mais nuclear)

Procurado pela Folha, o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) não se manifestou sobre a ampliação da produção excedente de urânio planejada pela INB, estatal vinculada à pasta.

Se optar por não exportar os excedentes, o urânio produzido a mais pode ser estocado. “Se o país entender que deve ficar com estoques estratégicos, tudo bem”, diz Tranjan, insistindo em que o planejamento da estatal extrapola o mercado interno. “Nossa ambição vai além disso.”

O mundo tem hoje mais de 400 usinas nucleares em funcionamento. A demanda anual por urânio é estimada em 64 mil toneladas. O Brasil tem a sétima maior reserva mundial do minério. À frente do país, nesse ranking, estão: Austrália, Cazaquistão, Rússia, África do Sul, Canadá e Estados Unidos.

Fonte: Folha de S.Paulo/MARTA SALOMON/DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

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Construção da Bomba Atômica Brasileira


O cientista nuclear José Luiz Santana, ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), disse ontem que o Brasil esteve perto de produzir uma bomba nuclear no início dos anos 90, mesmo depois que o ex-presidente José Sarney (1985-90) mandou desativar o buraco de testes na Serra do Cachimbo (PA). Ele revelou que peças chegaram a ser fabricadas e um dos estoques de urânio enriquecido disponíveis para o artefato estava dentro de um contêiner no campus da USP.
— Assumi em abril de 1990, no início do governo Collor, mas só em agosto a CNEN conseguiu submeter o contêiner ao seu controle -— declarou.
A desmontagem do processo de construção da bomba atômica brasileira, segundo o cientista, levou sete meses. Mais de 50 equipes estavam mobilizadas para desenvolvê-la. Além do urânio, Santana disse que suas equipes também encontraram um disparador e partes de uma esfera que formariam o artefato.
— É provável que parte dos técnicos mobilizados nem soubesse que estava fazendo uma bomba.
Em entrevista ao “Fantástico”, exibida na noite de ontem, Santana contou que teve acesso a um relatório ultra-secreto que detalhava a construção da bomba. Segundo ele, a potência do artefato seria equivalente à das bombas lançadas no Japão em 1945.
No programa, o ex-presidente da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Pedro Paulo Leoni Ramos (governo Collor), também revelou ter interceptado uma Kombi que deixava as instalações do antigo Serviço Nacional de Informações, no início de sua gestão, carregada de documentos. Entre eles, havia papéis referentes ao programa nuclear.
Santana ordenou rastreamento nas unidades
Santana disse que, ao assumir, encarregou a química nuclear Zelinda Gonçalves, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN, de percorrer as 44 unidades vinculadas à comissão, à procura de coisas que pudessem ter dualidade (material para fins pacíficos e bélicos).
São Paulo - Instalações do Centro Experimental de Aramar, na cidade de Iperó, a cerca de 130 quilômetros da capital paulista, local onde a Marinha desenvolve seu programa nuclear
São Paulo - Instalações do Centro Experimental de Aramar, na cidade de Iperó, a cerca de 130 quilômetros da capital paulista, local onde a Marinha desenvolve seu programa nuclear
O rastreamento, que mobilizou outros dez técnicos da CNEN, levou à descoberta do contêiner numa área ocupada pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) na USP. Santana afirma que o urânio enriquecido chegou ao Brasil por conta de um acordo bilateral com um país cujo nome recusou-se a fornecer.
O ex-presidente disse que sua estratégia, para desativar o programa, foi transferir equipes para outros setores e, no caso de instalações militares, redirecionar recursos. Santana disse que a última instalação submetida ao controle da CNEN foi Aramar, gerida pela Marinha. Ele contou que, durante a desativação, sofreu três atentados.

Fuente: http://perigoconcreto.blogspot.com/2010/01/construcao-da-bomba-atomica-brasileira.html
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6 mayo 2011
Enriquecimento de Urânio no Brasil: Desenvolvimento da Tecnologia de por Ultracentrifugação.

Por Othon Luiz Pinheiro da Silva* e André Luis Ferreira Marques** 


Após as iniciativas do Almirante Álvaro Alberto durante os anos 50 de realizar pesquisas científicas no Brasil, no setor nuclear, o governo brasileiro decidiu investir recursos, já no início dos anos 70, para dotar o país de capacitação plena no ciclo do combustível nuclear, produção de reatores de pesquisa e de potência e, finalmente, no reprocessamento de combustível nuclear utilizado nos reatores. Tal linha de ação visava garantir os meios necessários para o fortalecimento de nossa matriz energética, com a utilização dos recursos naturais existentes (minas de urânio e tório, cujas reservas estão entre as maiores no mundo) para a produção de energia elétrica, dentro da visão particular dos programas de desenvolvimento em vigor à época.

Dentro deste contexto, previu-se a construção de diversas usinas nucleares, em torno de 56 unidades do tipo PWR (pressurized water reactor). Além desse motivo, havia a necessidade estratégica de se colocar o setor nuclear do Brasil em grau de desenvolvimento no mesmo patamar que outros países de mesmo porte estavam perseguindo. Assim, diversas medidas foram tomadas, como a capacitação de pessoal no exterior, formação de empresas estatais para executar as atividades industriais e a criação e o fortalecimento dos institutos de pesquisas.

Neste cenário, em 1975, celebrou-se o Acordo Brasil-Alemanha de cooperação no setor nuclear, onde haveria a transferência alemã de tecnologia e alguns meios para os objetivos mencionados logo acima. Alguns itens derivados deste acordo são a fábrica de construção de reatores da NUCLEP (Nuclebrás Equipamentos Pesados, em Itaguaí) e a própria Usina Nuclear de Angra 2, ambos construídos no estado do Rio de Janeiro. No ciclo do combustível nuclear, a transferência tecnologia inicialmente prevista para o enriquecimento de urânio era a ultracentrifugação, a qual os alemães já dominavam há alguns anos. No entanto, por pressões internacionais, a transferência ao Brasil desta tecnologia foi vetada, oferecendo-se a alternativa do “jet-nozzle”, a qual ainda estava em fase de desenvolvimento laboratorial. O motivo de se enriquecer o urânio (aumento do teor de U235 em relação ao que se dispõe naturalmente) deve-se ao fato de que a probabilidade de ocorrer a fissão neste elemento químico ser muito maior do que em outros elementos químicos (da ordem de mil vezes).

Na mesma ocasião (final dos anos 70), a Marinha do Brasil (MB) identificou a necessidade de se operar com submarinos de propulsão nuclear, uma vez que estes são vetores com grande poder de disuassão e vantagem tática, em função de seu alto poder de discrição (pode operar muito tempo submerso, dificultando sua detecção por forças aeronavais de superfície). Por causa da grande densidade de energia de seu reator nuclear, além de gerar oxigênio para sua tripulação, o submarino nuclear pode manter altas velocidades durante muito tempo, permitindo-se patrulhar grandes extensões de mar territorial.

É importante mencionar que um País pretendendo operar submarinos nucleares deve providenciar toda a infra-estrutura necessária (base de apoio, fabricação e manutenção de componentes principais, entre outros), porque a dependência externa em se obter componentes vitais, tais como o núcleo do reator nuclear naval, é uma hipótese descartada, devido à vulnerabilidade logística inerente desse tipo de dependência. Em passado não muito distante, vimos este tipo de situação no veto de exportação de suprimentos ingleses para a Argentina, durante a Guerra das Malvinas, o que diminuiu em muito a eficácia de sua Marinha.

Dentre os diversos métodos de enriquecimento de urânio (separação isotópica do U235 em razão maior do que 0,7%, que aquela que se encontra na na Natureza), somente dois processos revelam-se atraentes para produção em escala industrial: a difusão gasosa e a ultracentrifugação.

No primeiro, comprimi-se o gás hexafluoreto de urânio (UF6) através de membranas microporosas, associadas em série, de forma a se separar o U238 do U235, sendo este último mais interessante para a fissão com nêutrons. Na ultracentrifugação, a separação é feita pela força centrífuga agindo nas partículas de UF6, cujo princípio é idêntico àquele que conhecemos em nossa casa, concentrando-se o U238 em uma região mais externa do que o U235, porque o primeiro é mais pesado somente cerca de 1% em relação ao segundo. Daí aparecer o termo “ultra” centrifugação (operar em velocidades tangenciais muito altas), para separar dois elementos cujas massas são muito próximas.

Todos os demais processos (e.g. eletromagnético, colunas térmicas) não se aproximam em termos de eficiência (da ordem de pelo menos 100 vezes) em relação à ultracentrifugação, seja pelo consumo elevado de energia e/ou pela geração de grande quantidade de efluentes químicos. Além disso, há processos que ainda não saíram da fase laboratorial, como é o enriquecimento a laser. O “jet-nozzle” seguiu o mesmo caminho, não sendo industrialmente eficaz.

Com a negativa de importação da tecnologia de ultracentrifugação e com a transferência alemã de um método não eficaz em escala industrial, decidiu-se pelo desenvolvimento nacional do enriquecimento de urânio por ultracentrifugação pela Marinha e por laser pela FAB, também no final dos anos 70. É importante mencionar que dentre as atividades do ciclo do combustível, o enriquecimento de urânio é a que reúne a maior complexidade tecnológica, por lidar com exigências técnicas muito estritas, em termos de seleção e desenvolvimento de materiais, em controle de qualidade dimensional, diversos métodos e etapas de fabricação eletromecânica, entre outros aspectos.

Desenvolvimento

A tecnologia de ultracentrifugação foi desenvolvida na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, pela equipe do Prof. Zippe. Posteriormente, os russos a aperfeiçoaram com o auxílio do próprio Zippe e alguns de seus cientistas. Atualmente, menos de 10 países no mundo dominam esta tecnologia, sendo o Brasil um deles.


Figura 1 – Esquema de Ultracentrífuga

Na figura 1, baseando-se em fontes ostensivas e em linhas gerais, apresenta-se um esquema de uma ultracentrífuga, com as seguintes partes [1]:

a) Carcaça
b) Rotor
c) Motor
d) Distribuidor e coletores de hexafluoreto de Urânio
e) Mancais

Para se obter a separação isotópica mencionada acima, deve-se operar com as maiores rotações possíveis, uma vez que a força centrífuga é proporcional ao quadrado da velocidade angular. No entanto, deve-se respeitar os limites de resistência dos materiais (devido às altas tensões mecânicas ou esforços solicitantes decorrentes) e diminuir o consumo de energia ao máximo. Nesta ótica, quanto menor for o atrito entre as diversas partes, melhor será o rendimento da ultracentrífuga.

Para a diminuição do atrito, opera-se sob vácuo entre a carcaça e o rotor, ao mesmo tempo que se atenua o atrito nos mancais. Desenvolvido e homologado um modelo de ultracentrífuga, fabricam-se diversas delas para que sejam montadas em arranjos série e paralelo, os quais passam a se chamar “cascata de enriquecimento de urânio”, em função das condições de contorno do projeto (quantidade de massa e teor de enriquecimento). Para reatores do tipo de Angra 1 e 2, são necessárias toneladas de UF6 enriquecido entre 3 e 5%.

Por exemplo, os arranjos em paralelo objetivam a produção de grande massa, mas com baixo teor de enriquecimento. Por outro lado, o arranjo em série provê uma quantidade de massa muito pequena, mas com alto teor de enriquecimento. A figura 2 apresenta um arranjo em cascata, onde o produto de um determinado estágio segue para a alimentação do estágio seguinte, enquanto que o seu “rejeito” retorna para alimentação do estágio anterior. Observa-se que se recicla o UF6 o tempo todo ao longo do processo: o produto de um estágio de enriquecimento é direcionado para a alimentação do estágio seguinte, enquanto que o rejeito do estágio inicial retorna para a alimentação do estágio anterior.

Como em aplicações de alto desempenho (e.g. aeroespacial, biomedicina), os materiais potencialmente aplicáveis em sistemas de separação isotópica devem reunir grande resistência mecânica, baixa densidade e resistência ao meio corrosivo (constituído pelo UF6). No quesito da resistência mecânica, considera-se para efeitos didáticos que a tensão mecânica associada seja proporcional ao quadrado do módulo de elasticidade (N/m2) dividido pela densidade (kg/m3). Consultando-se referências ostensivas, na tabela 1 evidencia-se que os materiais poliméricos são extremamente desejáveis, apesar de sua fabricação ser mais trabalhosa, assim como o seu projeto, uma vez que tais materiais exibem grande “anisotropia”, i.e. variação acentuada das propriedades, principalmente mecânicas, com as direções. Os materiais metálicos, como os aços “maraging” ou as ligas de titânio são também atraentes, mas sua densidade diminui sensivelmente o desempenho, quando se compara com os materiais compósitos.



Legenda:

A – Alimentação (com urânio natural)
P – Produto (ou parte enriquecida)
R – Rejeito (ou parte empobrecida)

Tabela 1 – Comparação de propriedades de materiais [1]
 

O poder de separação de uma ultracentrífuga é medido em kg de UTS, ou Unidade de Trabalho Separativo, por ano (kg UTS/ano). Esta unidade advém da teoria de operação de meios em cascata, onde se emprega o conceito matemático de função de valor. Em linhas gerais, a equação 1 expressa esse poder [2].
Poder de Separação ~ L x rotação n x D x DM 2 x Temp –2  (1)

Legenda:

L – comprimento vertical
D – coeficiente de difusão do UF6
DM – diferença de massa entre isótopos (U238 – U235)
Temp – temperatura do UF6
n – coeficiente entre 4 e 5.

Como se pode notar, quanto maior a rotação maior será o poder separativo, assim como o comprimento do rotor, e menor for a temperatura do UF6. Entretanto, é digno de nota que o ponto triplo deste gás é muito próximo das condições normais de temperatura e pressão (CNTP), fazendo com que este dessublime (passe do estado gasoso para sólido) facilmente naquelas condições, o que pode entupir tubulações de processo. Além disso, em contato com o ar, o hexafluoreto de urânio reage com a umidade produzindo o ácido fluorídrico (HF), que é perigoso.

Identificados os principais aspectos técnicos do desenvolvimento da ultracentrifugação, o programa nuclear da MB construiu todos os meios laboratoriais e industriais necessários para se desenvolver e implantar esta tecnologia no Brasil. Como sempre feito pela MB, mobilizaram-se alguns dos melhores talentos e meios existentes no Brasil, reunindo-se equipes de vários setores: engenharia mecânica, mecatrônica, engenharia eletrônica, engenharia de processos, engenharia de materiais, entre outros. Para a gerência dos recursos materiais e humanos, a MB criou a Coordenadoria para Projetos Especiais (COPESP), em 1986, posteriormente renomeada como Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), com sede no campus da Universidade de São Paulo (USP) e o Centro Experimental ARAMAR (CEA) na região do município de Iperó/SP. A escolha pelo Estado de São Paulo recaiu por ser o estado que dispõe do melhor parque industrial, contando também com escolas de engenharia e centros de pesquisa de primeira grandeza.

Como se sabe, os fenômenos de transporte (gás dinâmica) e transferência de calor associados aos fluidos que escoam em velocidades muito altas apresentam-se como não lineares, sendo muito difícil a sua simulação por meios puramente analíticos e numéricos, mesmo com a atual disponibilidade de recursos computacionais de grande capacidade.

Assim sendo, no desenvolvimento da tecnologia de ultracentrifugação de urânio, foram construídos diversos laboratórios, relacionando-se estes com muitos institutos de pesquisas, empresas e universidades em todo o território nacional. Em poucas palavras, tal desenvolvimento é fundamentado em experimentação e simulação em diversas escalas (inclusive a natural ou 1:1), de forma a se homologar um componente ou sistema para a produção e montagem industriais. Nas diversas parcerias firmadas, a interação procura a otimização contínua de aspectos multidisciplinares, incorporando-se às máquinas o que se há de mais avançado nas diversas áreas tecnologias com materiais avançados, técnicas de fabricação, malhas de controle e eletrônica.

O produto deste esforço nacional pode ser visto nas duas instalações de enriquecimento de urânio da MB no CEA: o Laboratório de Enriquecimento de Urânio (LEI) e a Usina de Demonstração Industrial de Enriquecimento (USIDE), as quais operam desde o final dos anos 80 e início dos 90. Mais recentemente, o esforço do desenvolvimento da tecnologia de ultracentrifugação se faz notar no contrato celebrado entre a MB e as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) para a instalação de cascatas de enriquecimento de urânio na unidade de Resende/RJ, para a fabricação de combustível nuclear para as usinas de Angra 1 e 2. Outras informações sobre o processo de enriquecimento de urânio no mundo podem ser encontradas nas referências 4 e 5.

Conclusão

O desenvolvimento da tecnologia de ultracentrifugação de urânio é um marco de sucesso na história tecnológica do Brasil. Do interesse inicial do Almirante Álvaro Alberto, o qual tentou trazer centrífugas da Alemanha no pós-Guerra, enfrentando forte resistência externa, conseguiu-se com o esforço, dedicação, criatividade e obstinação de técnicos e engenheiros brasileiros, ao longo de 15 anos, conceber e aperfeiçoar uma série de máquinas para produção de material para uso no combustível nuclear, emprego pacífico da energia nuclear, como estabelece nossa Constituição Federal.

A decisão tomada no final dos anos 70 pela escolha da ultracentrifugação foi acertada, por ser um método muito eficiente, em termos de consumo de energia elétrica, e modular, trabalhando com unidades padronizadas e organizadas em arranjos em série e paralelo, o que garante boa flexibilidade operacional. Prova do acerto da decisão é visto na recente evolução tecnológica dos países que usavam a difusão gasosa, como os EUA e a França, para o processo da ultracentrifugação.

Como produtos do desenvolvimento da implantação da tecnologia de ultracentrifugação, foi desenvolvida no Brasil a produção de aços de alta resistência, assim como de válvulas especiais para operar com substâncias corrosivas. Igualmente importante, vários componentes de satélites e mísseis têm sido fabricados e testados usando recursos laboratoriais e industriais do CEA, originalmente estabelecidos para o desenvolvimento do programa nuclear conduzido pela Marinha. Recentemente, identifica-se também como resultado expressivo o trabalho conjunto da MB, Força Aérea Brasileira (FAB), universidades e institutos de pesquisa, para a produção no país de fibra de carbono de alto desempenho, por meio de convênio com a Financiadora de Projetos (FINEP), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Nesse sentido, confirma-se o lema “Tecnologia Própria é Independência”. Em nossa visão, é fundamental que as futuras gerações não deixem de trilhar o caminho de acreditar e utilizar o potencial nacional na suplantação de obstáculos ao nosso desenvolvimento. Somente com o domínio de tecnologia, principalmente com nossas próprias mãos e talentos, garantiremos o patamar necessário para a nossa plena autonomia e independência.

Notas
 
Vice-Almirante (Engenheiro Naval – Ref.), foi o criador e coordenador do Programa Nuclear da Marinha de 1979-1994. Atualmente é Diretor-Presidente daELETRONUCLEAR.
 
** Capitão-de-Fragata (Engenheiro Naval), é o Coordenador do Programa de Separação Isotópica do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo - CTMSP.

Referências bibliográficas
 
1 – Villani, S. – “Uranium Enrichment” – Topics in Applied Physics – Volume 35 – Springer Verlag – 1979.
2 – Green, R. – “Back to the future” – Nuclear Engineering International – Sept 2002.
3 - Upson, P – “Centrifuge Technology: the future for enrichment” – World Nuclear Association Annual Symposium – London – 2001.
4 – www.usec.com
5 – www.urenco.com


PINHEIRO DA SILVA, Othon Luiz. MARQUES, André Luis Ferreira. Enriquecimento de Urânio no Brasil: Desenvolvimento da Tecnologia de por Ultracentrifugação. Revista Eletrônica Estratégia Brasileira de Defesa - A Política e as Forças Armadas em Debate, Nº 20, Rio, 2011 [IBSN 00-28-11-1983].



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